Ele havia me chamado para uma conversa, aquela que eu achava que iria ser definitiva. Em alguma parte do meu subconsciente dizia para não ir até lá. Até o lugar onde tudo começou. E eu não queria ir. Eu gostava do jeito que tinha acabado, do final que eu achava que tinha dado.
Eu me encontrava novamente naquela pequena cabana abafada no topo da colina.
Ela estava abandonada a muito tempo e ninguém (além de nós) vinha ali. Balançei a cabeça tentando afastar a lembraça do dia em que tudo foi mais perfeito. Patética, afastando memórias que me faziam bem, mas era bem melhor assim do que me afundar na ilusão de que aquela brincadeira de verdades poderia continuar.
Afastei a porta em condições deploráveis e entrei.
Ele se encontrava sentado em uma cadeira velha perto da lareira onde mal havia fogo.
Sem dizer nenhuma palavra me sentei em uma poltrona que soltava pó a qualquer pequeno movimento perto da janela, observando os pingos da chuva que tentavam ultrapassar o vidro.
Ele esperava eu falar alguma coisa, e eu fazia o mesmo em respeito a ele, mas desse jeito nada seria dito.
Mas antes que eu pronunciasse algo ele virou a cadeira em minha direção, eu não tive coragem de olhar.
- Você sabe que não ama ele.
Eu respirei fundo e girei o corpo.
- Sei?
- Sabe, só não quer ser convencida disso. Você sabe que quem realmente quer sou eu, só tem medo de adimitir isso.
Irritante quando ele tinha razão, mas o que eu poderia fazer? Mesmo que cada célula do meu corpo, mesmo que cada pensamento meu fosse direcionado para ele eu não tinha coragem de trocar o certo pelo duvidoso.
Ele continuou falando sem se importar de não ter uma resposta.
- Você tem medo porque eu sou diferente, não sou um cachorrinho mandado como ele.
- Cale a boca. - Cerrei os dentes. Ele era irritante, e mesmo assim eu o desejava.
Respirei fundo, deixando o ar abafado me invadir. Talvez fosse melhor ir embora dali, ficar longe dele. Talvez...
Eu iria dar um fim nessa situação enquanto me restava coragem.
Me virei para levantar, sem mais nem menos, em um movimento ele tinha as mãos em minha cintura e sua testa na minha, eu sentia sua respiração úmida bater no meu rosto, com os olhos fechados e seu corpo junto ao meu ele falava lentamente.
- Você é o amor da minha vida.
Eu congelei, ele nunca havia falado assim. Meu coração acelerou, apenas escutando o som da sua voz.
Ele passou os lábios pelos meus devagar.
- ... E eu sou o amor da sua, porfavor, aceite isso.
Eu era fraca, patética e completamente apaixonada. Não havia saída, eu era egoísta e queria ter os dois para mim.
Respirei fundo e puxei seu rosto de encontro ao meu, me perdendo naqueles lábios que eu não teria coragem de deixar. Ele me manipulava e sabia disso. Eu o amava, e isso ele também sabia.
E a partir daquele beijo, nós estaríamos repetindo aquele dia.
