... de ricos, onde se encontra o parapeito e um pouco mais a frente metros e metros de altura até chegar ao solo? Eu me encontrava do outro lado da barra de ferro com a pontinha dos pés ao nada.
Minha agonia era birrenta, mas eu não iria me render. Passei as costas da minha mão sob os olhos, limpando as lágrimas que insistiam em cair.
Atrás de mim, sentado casualmente com seu cigarro na boca e rindo, ele me observava.
Sínico, debochado e canalha como sempre.
- Qual é Anne? Já não passamos por isso antes? - Disse ele em um tom de desdém, que me irritou mais do que profundamente.
- Mas, mas dessa vez eu vou me jogar de verdade! - Eu joguei as palavras corridas, tropeçadas uma nas outras, e gaguejei. Meu ponto fraco.
O "porquê" da minha ceninha? Ele estava novamente com ela, rindo com ela, sua mão sobre a dela, brincando com ela.
Porque nesse mundo consumista e cheio de garotas como eu, ele vai querer logo estar com ela?
Rídiculo, falta de senso.
- Adimita, você é bem fútil, compra sempre, tem esse gênio péssimo! Ruim é pouco, e é uma garota com o ego acima de tudo, como eu posso te aguentar?
Ele riu de uma piadinha interior que eu não compreendi, mas não esperava uma resposta. Meu olhar ficou vazio, um buraco se abriu no meu peito e ele pareceu ver a mudança de expressão.
Antes eu apenas brincava em me jogar, mas agora eu tinha motivos.
Ele tinha razão, eu era apenas mais um ser materialista, meu chão caiu, toque de realidade que faltava.
Ele jogou o cigarro no chão e pisou, aproximou-se devagar e encostou as mãos na barra de ferro ao meu lado encarando-me.
- Anne, qual é? Desça logo, vamos!
Eu olhei para baixo, cada vez mais convicta do que eu queria.
Ele pareceu alarmado.
- Anne, não por favor, venha, venha comigo.
Eu continuei sem foco, não prestando atenção nele.
Ele descansou sua mão na minha, chamando minha atenção.
- O que eu falei... não leve a sério. - Pela primeira vez em todos esses anos de confusão, ele parecia-me sincero. Aqueles olhos me hipnotizavam, aquele cabelo propositalmente desajeitado me deixava como louca.
Puxou-me calmamente. Colocou-se diante de mim, com sua mão em meu queixo e seu olhar no meu.
Falou em um sussurro:
- Você sabe que eu te quero, que eu te desejo. Se você não fosse essa menininha linda, tão frágil, tão delicada, meu coração não seria tão seu. Eu quero te cuidar, cada segundo que eu viver. Eu quero suas birras só para mim. Esses seus olhos tão profundos que guardam muito mais do que cartões de créditos, eu os quero. Então saiba, Anne, que não me importa mais ninguém, além de você.
Ele suspirou e aproximou minha boca de seus lábios puxando-me delicadamente pelo queixo.
O amor que antes eu sentia, explodiu em meu peito, tornando tudo muito caótico ali dentro.
Eu não queria estar longe dele, eu não queria ninguém além dele.
Eu não PRECISAVA de outros lábios que não fossem os dele, e ele era inteiramente meu.
