Eu me encolhia, trazendo minhas pernas para bem perto do meu corpo, com medo do que pudesse ter ao meu arredor. Estava tão escuro e eu não sabia como tinha ido parar ali.
Em um momento me encontrava na cama com o meu pijama novo e fofo e em outro estava em um lugar frio. Nada eu podia escutar além da minha respiração. Alguns minutos se passaram e as luzes se acenderam, tão de repente que meus olhos arderam, e num movimento automático coloquei minhas mãos sobre eles.
Escutei passos, e tive medo, muito medo. Aquele medo que eu custumava sentir todos os dias da minha vida. Insegurança, medo de não ser aceita, medo de não ter alguém para confiar, medo de não conseguir... Medos, medos que nunca me deixavam.
Esse novo medo me impedia de tirar as mãos da frente de meus olhos. Então uma voz doce e masculina me alertou.
- Sem medo, abra os olhos.
Sem medo? Não sabia o que era isso, mas obedeci. Minha curiosidade se tranformou em necessidade. Estava parado em minha frente um homem com seus 40 anos, com um terno que aparentava ser caro e os olhos acolhedores. Resolvi dar uma olhada ao redor.
Eram 4 paredes feitas de espelhos, eu estava sentada ao chão.
Ele puxou uma cadeira e sentou-se, onde estava essa cadeira antes?
Continuei encarando-o, enquanto ele sorria. Uma figura paterna. Ou ao menos eu achava que era.
- Esta com medo?
Engoli em seco.
- Sim.
- Não precisa. Não vou fazer nada.
Eu tinha tantas perguntas, como eu estava ali? Mas meu medo era maior.
O silêncio se fez enorme, até que ele limpou a garganta, mas não parecia nada impaciente.
- Já te falaram que o medo é um dos piores sentimentos que existe?
Eu respirei fundo e me endireitei, com a palma das mãos apoiadas no chão.
- Por que?
Ele riu.
- Porque o medo deixa as pessoas cegas. Não as deixa tomar uma decisão certa, as deixam de guarda baixa.
- Como assim?
As perguntas vinham automaticamente, ele me passava serenidade, misterioso. Quem era ele?
- Você esta com medo. E esse medo não deixou você ver que tem uma porta de saída aqui. E mesmo que tivesse visto, aposto que você não teria ido em direção a ela. Medo, sempre o medo.
Olhei em volta, prestando a devida atenção e percebi realmente, que além de espelhos havia uma porta.
- Estou sonhando não estou? Quem é você?
Ele pareceu ignorar.
- O medo, nos deixa vulneráveis, nos enloquece, nos torna piores do que somos.
O medo nos faz sentir calafrios, borboletas na barriga, as mãos suam e você quer gritar.
- Pensei que esse fosse o amor...
Ele riu abertamente.
- Tem uma certa semelhança. O amor gera muitos outros sentimentos.
Ele cruzou os braços.
- O medo pode acabar com a saúde física e mental, e não precisa muito para isso acontecer. Então tome cuidado, não deixe o medo te dominar. Não deixe o medo acabar com quem você é. Lembre-se que se falhar, não será o fim.
Ele se levantou calmamente e andou até um espelho. Seu reflexo estava claro, sem sombras. Então a compreensão me invadiu.
- Meu subconsciente?
Ele esboçou um pequeno sorriso para mim e sumiu, então me dirigi lentamente até a única porta que tinha ali, girei a maçaneta e... acordei. Sem medo de tentar fazer do meu dia um dia melhor.
